domingo, 11 de janeiro de 2009

16° Dia - 06/01/09 - Diario do Piloto = O Vento e o Rípio se juntaram e finalmente conseguiram nos derrubar.

O Local: Tres Lagos, após 30 km do trevo de acesso ao povoado de El Chalten, no sopé do pico Fitz Roy = Estamos em uma Estacao de Servico (posto de combustível). Final do trecho asfaltado da Ruta 40. Logo que entramos no posto (já havíamos passado, nao o enxergando pois ele se localiza afastado da rodovia), vimos duas motos Transap estacionadas sendo abastecidas, em uma delas um americano que falava portugues na outra um casal de americanos (estes nao falavam qualquer palavra em portugues). O primeiro, que falava portugues, muito cansado. - De onde vens, perguntei, ja sabendo da resposta, pois o vi passar quando sem querer passei pelo posto. Respondeu: - da Ruta 40, de Bariloche. E eu imediatamente: - Como ela esta? - Horrível, respondeu, continuando, - muito e muito vento, vento forte e um rípio alto entre os trilhos de automóveis, e completou - Esta muito perigoso. Precisa muita forca para manter a moto nos trilhos e nao descontrolá-la para que nao mergulhe no pedregulho formado pelo trilho dos autos. A altura do leito entre os trilhos é de 30 cm ou mais em alguns locais. Levei 4 horas para percorrer 180 km, todo ele ruim. Antes (para nós seria depois) ele esta melhor. Além disto muitas custeletas nos trilhos. Como se nao bastasse a via estar péssima, o vento atua de forma intermitente, e volta e meia largando fortíssimas rajadas. Abastecemos as motos, o vento intensificando e nossa preocupacao aumentando. Estavamos ali em um dilema, retornar os 150 km ate El Calafate e se dirigir a Rio Gallegos e após subir a ruta 3, ou continuar , sofrer e enfrentar esta adversidade???? Resolvemos, em comum acordo, depois de alguma discussao prosseguir pela ruta 40. Péssima idéia. Antes de sair o americano alerta: muito cuidado, esta muito perigoso mesmo. Vao com cuidado e tomem muita água no caminho. Ao saírmos uma camionete vem trasendo carregada em sua carroceria o 4° membro da equipe (a moto estragada e o piloto acabado). Nao aguentou a ruta 40. Seguimos temerosos e o vento fortíssimo pegando no costado. Entramos na ruta 40, devagar e eu extremamente tenso tentando manter a moto nos trilhos. Vou seguindo, inicialmente 40, 50, 60 km/hora e entao uma forte rajada de vento já nos 2 km percorridos nos joga para o meio do trilho onde o pedregulho forma montes de 30 cm e a moto se descontrola, eu acelero e dá-se o acontecido: a moto derapa e faz um zerinho atirando eu e Adelaide um ou dois metros longe. Assim como caímos nos levantamos (tudo extremamente rápido). Eu apavoradissimo com a possibiliodade de a Adelaide ter se machucado, porém averiguacoes feitas, nenhum arranhao em ambos. Tudo bem com a gente. Agora era verificar a moto que recém abastecida expelia pelo suspiro gasolina. Ficou virada e deitada no sentido contrário (pela derapagem que formou um zero). Um dos alforjes arrebentou sua cinta que o segura no suporte. No mais tudo bem. Um Argentino, que recém havia passado por nós, viu que estávamos em maus lencóis, e deu marcha ré em sua caminonete. Veio ver se havíamos nos machucado e vendo a dificuldade de erguer a moto, nos ajudar a levantá-la. Com muito esforco, pois erguemos ela contra o vento, colocamo-a de pé. Por incrível que pareca e pela protecao dos alforjes nehum arranhao na Catarina, somente o pé da embrenhagem entortado. Será que algum problema mecanico poderia ter ocorrido com a queda? Bati o arranque e nada, acho que estava afogada. Bati novamente e nada. Definitivamente afogada. O vento mal nos deixava de pé. Esperei um pouco e bati novamente o arranque e finalmente ela ligou. Agora averiguar se as marchas funcionavam. Incialmente me pareceu difícil, pois a alavanca estava completamente torta, fora de sua posicao para uma debriagem tranquila, mas após algumas tentativas averiguei que estavam funcionando. Preciso aqui agradecer ao amigo Argentino (se nao me engano seu nome e Sérgio) que tao prestimosamente nos ajudou. Agora o desafio era sair daquele ripio, pois se antes estavamos em um dilema, agora tínhamos uma certeza: nao prosseguiríamos pelo rípio. Que encreca que nos metemos. Pela adrenalina, pelo vento, os 2 km de retorno foram para mim os mais longos de toda a viagem. Finalmente conseguimos alcancar o asfalto. Vale aqui a importante observacao que principalmente pelos equipamentos como roupas de cordura com protecoes nas articulacoes, botas e luvas, nada sofremos (Somente a bota da Adelaide foi um pouco mastigada, mas, como disse ela nada sofreu). Isto tudo ocorreu após já termos visitado o pequeno povoado de El Chalten, capital nacional do trekking. Povoado com nao mais de 400 habitantes e com uma razoável estrutura para atender os turistas, principalmente mochileiros. El Chlaten é uma comunidade incrustada entre paredoes, e ao chegarmos observamos ao fundo o belíssimo pico Fitz Roy, pontiagudo, nevado, lindo. Andamos entre ida e volta, do acesso pela ruta 40, 200 km aproximadamente, na ida, contra o vento, mas valeu. Este é outro local que pretendo novamente visitar. El Chalten é muitíssimo interessante. Apos nos dirigimos a ruta 40 para prosseguir viagem, sendo que já contei o que se sucedeu. Refeitos os planos retornamos para o entroncamento de El Calafate e seguimos viagem para Rio Gallegos. Havíamos abastecido em Tres Lagos e o próximo posto de abastecimento seria na localidade de Nova Esperanza. Nao teríamos autonomia, porém estava carregando mais 5 litros em um galao reserva. Daria para chegar na localidade abastecer e seguir para Rio Gallegos. Chegando em Boa Esperanza, qual nao foi a nossa surpresa (por incrivel que pareca, eu estava com um pressentimento) que ao chegar ao posto observamos escrito em uma folha de caderno espiral: No hay Nafta (nao havia gasolina). Somente chegaria no dia seguinte ao meio dia. Tinhamos gasolina para no máximo mais 40 quilometros, porem Rio Gallegos ficava a 160 km. Como fazer? Fomos até uma pequena hosteria perto do posto para saber se havia vaga na hosteria, porém tinha a intencao de comprar gasolina de algum particular. Nao aceitava a idéia de ficar até o meio dia do dia seguinte em um local sem nenhum atrativo, as margens de um rodovia, só porque um argentino incompetente havia esquecido de encomendar gasolina para seu posto de combustível. A Adelaide foi a primeira a pedir para as senhoras da hosteria. Nao, nao havia. Nao me conformei e fui lá conversar. - Pago mais, preciso de 10 litros para chegar a Rio Gallegos. Esta proposta foi a senha para um maior emprenho. A primeira tentativa se deu no veículo da proprietária da hosteria, senhora Liliana. Nao dava para acreditar: Havia um dipositivo anti-furto que impedia de sugarmos a gasolina. Pedi ao seu esposo (ou parente, que havia feito a tentativa de sugar a gasolina do veículo): - Mas nao há algum conhecido ou parente seu que possa me vender? Respondeu: - No, no Hay, acá os autos no son nafteros e si a diesel. É o dia, pensei, o que mais falta acontecer?. Porém a sorte comecou a mudar: Havía acabado de chegar a hosteria um já conhecido cliente e a Liliana (eu já havia me conformado com o fato de ter que dormir por lá e esperar até o meio dia do dia seguinte) lhe questiona se pode vender 10 litros de nafta para os brasileiros de moto. Conseguiu. Preciso agradecer a ela (se nao fosse seu empenho...) e ao argentino, de nome Eduardo (extremamente gentil) que nos cedeu a gasolina. E nao nos explorou. Cobrou um preco justo que nos possibilitou já quase noite chegar a Rio Gallegos. Um dia de muita adrenalina que terminou bem. Rodamos 750 km, porém avancamos pouco no nosso objetivo. Estávamos atrasados em torno de 350 km, pois a previsao inicial deste dia era dormirmos em Puerto San Julian. Porém gracas a Deus estávamos bem e havíamos conseguido chegar em Rio Gallegos. Vale aqui destacar quanto o Quarto membro da equipe nos ajudou neste dia. Primeiro: por diversas vezes tentou nos avisar do perigo de prosseguir na Ruta 40. Nós que ignoramos os avisos (lembrem do americano, da camioneta com a moto estragada, do vento, enfim, aviso nao faltou). Após nos colocou no caminho o Argentino Sérgio, que foi importantíssimo para nos auxilar após a queda. E por último, nos providenciou, através de outros gentis hermanos (lLiliana e Eduardo) que prosseguíssimos a viagem. Além do que nos protegeu da queda em todos os sentidos, inclusive nao avariando a moto de forma a nao prosseguir. Aliás, no momento da queda por um segundo pensei que a viagem havia terminado para nós. Felizmente nao. Destaco também o quanto a Catarina II tem sido valente, enfrentando com forca os ventos e nao nos deixando em momento algum na mao. Grande moto que entrará para história. No dia seguinte nosso propósito seria avancar muito. Se estávamos atrasados, o dia seguinte deveria ser de recuperacao.
P.S: Aqui um adendo e correcao. No dia anterior me referi a ruta 40 como carretera austral. Estava enganado. Achava que a Ruta 40 era a tao famosa carretera austral, porém esta está situada no Chile e é considerada uma das estradas mais lindas da américa. Que me corrijam os aventureiros que por ela já passaram. Bem que eu estranhava quando comentava com os Argentinos e via que eles nao entendiam bem o que estava dizendo quando me referia a Ruta 40 como carretera austral. Equívocos de um piloto de primeira viagem. Obrigado Renato pela Lembranca e correcao. A propósito, o Gaudério Renato Lopes, que escreveu o livro pelas Rutas do Cone Sul (já referido no blog) fez em Novembro de 2008 a travessia da Carretera. Vi em diversos locais seu adesivo Renato. Estamos agora ansiosos pela publicacao do relato desta sua aventura. Deve ter sido incrível. Obrigado também pela suas palavras de incentivo.

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