terça-feira, 30 de dezembro de 2008

8º dia - 29/12/2008 - Diário do Piloto = O Reinado do Vento

Acordamos, 7:30 hs da manha, um pouco tarde, dado os objetivos do dia: atravessarmos 4 aduanas e atravessarmos o estreito de Magalhaes. 4 aduanas, pois para chegarmos a Terra do Fogo temos que sair da argentina (primeira), entrarmos no Chile (segunda), em San Sebastian sairmos do Chile (terceira) e logo depois novamente entrarmos na Argentina (quarta). Além disto temos que atravessar o estreito de Magalhaes com um Ferry (balsa) e após enfretarmos 140 kiliometros de rípio. O dia prometia. Logo na saída de Rio Gallegos, pegando a Ruta 3 o vento, que nesta regiao é o grande Rei, já comecou a mostrar que acordou de mau humor. Nao tem aqui nesta regiao quem mande mais do que o vento. É ele o senhor de tudo e de todos por aqui. Logo na saída de Rio Gallegos um pequena desviada da Ruta (4 kilometros aproximadamente) para vermos a Laguna Azul, um vulcao, no meio destas planices já desativado, que no seu miolo formou uma linda lagoa azul esverdeada. Valeu a parada. Lá em cima (nao é muito alto, embora no seu interior a altura chegue a 70 metros) a forca do vento nos desequilibrava. Tiramos algumas fotos e continuamos a viagem. Primeira Aduana lotada de gente. Os tramites de saida de um pais sao mais rápidos, embora pela quantidade de pessoas fez que com se alongasse. O vento já demonstrando sua forca e aumentando a medida que o dia avancava. Lá encontramos os Paulistas motociclistas que conhecemos no dia anterior. Já estavam finalizando. Boa vantagem em relacao a nós, que mal iniciavámos a papelada. Lá também conhecemos rápidamente um casal de mexicanos de motocicleta, que já viaja a 4 meses e estao vindo da cidade do México. Isto sim que é aventura (um dia também faremos uma parecida até o Alasca). Na Aduana Chilena, a mesma coisa: muita gente, muito vento e muita demora. Enfim estávamos preparados e com o saco de paciencia cheio. Sabíamos por outros relatos que nas fronteiras o processo é moroso e precisamos ter paciencia. Um absurdo para um bloco economico que se diz integrado. Mais absurdo ainda para esta regiao, cujo pais da Argentina é separado pelo chile e os moradores da Terra do Fogo para acessarem o restante do pais precisam passar por estas quatro fronteiras. Realmente uma falta de inteligencia. Terminada a papelada, sempre tarefa da Adelaide que tem mais paciencia e é sempre cordial e simpática com todos (Eu já tenho e uma certa dificuldade de aceitar esta morosidade toda e prefiro, portanto nao atrapalhar). Seguimos viagem agora já no Chile pela Ruta 9. Bom pessoal, já falei muito do vento, que ele é forte, que nao havia ainda visto, que isto, que aquilo. Mas a apartir deste trecho, sem dúvida tudo que o que já havia passado em relacao a forca dos ventos esquecam e multipliquem por sei lá quantas vezes. Muito, mas muito vento. Muito e muito forte. O vento aje de forma constante, fazendo com que tenhamos que andar nao mais que 60 em na melhor das hipóteses a 80 km por hora em uma inclinacao que beira os 45 graus, sempre. Tensao absoluta e constante. Para piorar, o safado, volta em meia dá umas chicotadas para nos desequilibrar. Parece que entramos em uma centrífuga. Também insiste em nos jogar para fora da estrada ou contra a pista contrária, contra os veículos em sentido contrário. É uma forca incrivel e constante, que me parece, estava neste dia mais mal humorado. Após 30 km visualizamos pela primeira vez o estreito de Magalhaes, descoberto pelo navegador portugues Fernao de Magalhaes em 1536. Esta era sua intencao: descobrir uma alternativa para chegar ao pacífico. Sua aventura foi contada por Pingafetta (italiano) e nos dá uma nocao de como era esta terra quando magalhaes aqui aportou. Esta viagem, onde se descobriu o estreito, é a primeira viagem de circunavegacao ao redor do mundo. Uma grande aventura, que vale a pena ser lida e estudada. Chegando no Estreito em Punta Delgada, a Adelaide saiu da moto para procurar informacao do funcionamento, afinal, nunca tinhamos estado ali. Onde comprarmos as passagens, como fazer, enfim... Enquanto a Adelaide vai atrás destas informacoes, eu saí da moto e ao sair, fico por um segundo de costas para ela e buum: a moto foi derrubada pelo vento, imaginem voces, contra o sua alavanca de apoio. Resultado. Metade do manete de embreagem quebrado (sorte, pois se quebrasse todo o manete teria dificuldades, pois antes de substituí-lo nao teria como continuar = aqui um aprendizado que negligenciei = levar manetes reservas. Nao havia levado = quem fará este tipo de viagem precisa levar, pois situacoes como esta podem acontecer enao sao tao incomuns). Erguemos com a ajuda de uma pessoa, com muita dificuldade a moto, e recuperado do susto procurei um local, mais abrigado (o que é dificil nesta regiao descampada) para protegermo-nos do vento. Consegui ao lado da parede de um pequeno restaurante onde um caminhao já estava estacionado: protegeu bem e nos deu maior tranquilidade. Foi difícil a partir daí nos desgrudarmos da moto. Ou eu ou a Adelaide sempre de prontidao para segurá-la em caso de tentativa de derrubada por parte do vento (este safado...). Fui ver a situacao do canal. lá longe via os Ferry com muita dificuldade tentando atravessá-lo. Mas a visao era assustadora. Ondas enormes, criadas pela ventania, fazia a aguá respingar para todo lado. Visao preocupante. Pensei: será normal esta situacao? Vai ver é e o pessoal daqui já se acostumou. Enfim. Quando os Ferry chegaram observei o desembarque dos veículos. De arrepiar a espinha. A barca jogando de um lado a outro e os carros tentando descer. No final um onibus e um carro estao para descer e na hora que o carro comeca a descida a barca se despreende da rampa. Horrível. Pensei que ali se daria um sério acidente, pois cair naquele canal turbulento e gelado é morte certa. A barca com muita dificuldade depois de arrastada para longe consegue novamente atracar na rampa e entao os manobradores pedem para de forma muito rápida que o carro e o onibus descam. Bom fiquei pensando, como seria para mim subir na barca nestas condicoes. Logo recebemos o comunicado que as travessias estavam suspensas pela marinha, que é o órgao que controla e nos informaram, vejam só, que os ventos chegavam a 120 km/h. É vento a dar com pau. Para terem idéia. mal conseguiamos nos movimentar. Resumo da ópera: Esperamos das 14:00 hs as 20:00, até o tempo acalmar. Recebemos com tranquilidade a adversidade, pois certamente o quarto membro da equipe providenciou a suspensao da travessia por algum motivo, mas com certeza, vizando nossa seguranca, pois se atravessassemos teríamos que enfrentar o rípio com este vento. Ficamos sabendo mais tarde que os amigos de santa catarina que encontramos em Punta Tombo, que haviam conseguido atravessar cairam no rípio, tal a forca do vento. Atravessamos, já com o vento bem mais calmo e paramos em Cerro Sombrero. A intencao era abastecer e resolver se seguíriamos viagem por mais 140 km de rípio. Adivinhem se o posto de cerro sombrero nao estava fechado. Com a mais absoluta certeza. Resolvemos ficar em uma hosteria. Mais um casal, ele fraces, ela Ucraniana, também de moto (estao na estrada a 5 meses e inciaram sua viagem no Canadá), que nos fizeram companhia no estreito também por lá ficaram. Dia movimentado, mas estávamos mesmo assim felizes. Faltava apenas um dia para chegarmos a terra do fim do mundo. Havia ainda o rípio, mas esta é outra história.
P.S: desculpem eventuais erros ortográficos: sao decorrentes da pressa e da dificuldade com os teclados daqui. Importante que entandam o sentido e o teor dos relatos.
P.S 2: Continuem nos acompanhando. Assim que conseguirmos uma internet com mairo velocidade postaremos as fotos. Sao interessantíssimas.

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